O agronegócio brasileiro vive um paradoxo. Enquanto avança em conectividade, automação e inteligência artificial para aumentar produtividade e sustentabilidade, também se torna um dos setores mais expostos a ameaças digitais. A cadeia de valor do agro, das sementes à exportação, é uma das mais interconectadas da economia. E, justamente por isso, é também uma das mais vulneráveis. Um ataque cibernético bem-sucedido em uma ponta pode desencadear um efeito dominó devastador, interrompendo colheitas, paralisando cooperativas, comprometendo transportes e, em última instância, impactando o abastecimento e o preço dos alimentos.
Hoje, sensores de irrigação, tratores autônomos, drones de monitoramento, sistemas de gestão de fazendas e plataformas de exportação dependem de redes digitais integradas. O agronegócio deixou de ser apenas uma operação de campo para se tornar um ecossistema digital distribuído, com dados circulando entre máquinas, nuvens e pessoas em tempo real. Essa transformação, essencial para a eficiência e a competitividade, ampliou também a superfície de ataque. Cada novo dispositivo conectado é um potencial porta de entrada para agentes maliciosos.
Casos recentes de invasões em empresas de logística, cooperativas agrícolas e sistemas industriais no exterior servem de alerta. Um ataque de ransomware a uma transportadora de grãos pode atrasar embarques e causar prejuízos milionários. Um sequestro de dados em uma cooperativa pode interromper a distribuição de insumos em dezenas de municípios. A chegada do 5G ao campo, somada à aplicação intensiva de inteligência artificial na lavoura, promete ganhos expressivos, mas também expande exponencialmente o número de pontos vulneráveis. O que antes exigia acesso físico hoje pode ser comprometido remotamente, com alguns cliques.
É por isso que o agro precisa ser tratado como infraestrutura crítica, tal qual energia, saúde ou saneamento. A dependência tecnológica crescente do setor exige políticas e práticas de cibersegurança à altura da sua importância econômica. No Brasil, o agronegócio representa quase 25% do PIB e é base da segurança alimentar nacional. Uma interrupção significativa em sua cadeia produtiva teria efeitos que vão muito além do campo, afetaria o comércio, a indústria e o consumidor final.
Defendemos que a segurança digital acompanhe o avanço da conectividade. Onde há dados, há risco. E proteger esses dados é proteger o próprio negócio. Isso implica adotar abordagens especializadas para o ambiente operacional agrícola, combinando monitoramento remoto contínuo, análise comportamental de dispositivos e respostas automatizadas a incidentes. Quanto menor o tempo de reação, menor o impacto. A prevenção e a visibilidade em tempo real tornam-se tão estratégicas quanto o controle de pragas ou a previsão do clima.
Mais do que ferramentas, é preciso cultura. A transformação digital no agro deve vir acompanhada de uma transformação de mentalidade: entender que o ciberataque não é uma possibilidade remota, mas uma probabilidade crescente. A segurança precisa ser pensada desde o planejamento de uma fazenda conectada até a operação diária de uma cooperativa. Treinamentos, auditorias e simulações de incidentes são tão importantes quanto os investimentos em infraestrutura e automação.
O alimento do futuro será digital, e, por isso mesmo, vulnerável. A produtividade agrícola do século XXI dependerá não apenas da fertilidade do solo, mas da integridade dos dados. Em um mundo cada vez mais interligado, proteger o campo é proteger a economia, o abastecimento e a soberania. A cibersegurança, antes vista como tema de TI, tornou-se parte essencial da sustentabilidade e da competitividade do agronegócio.




